sábado, 13 de maio de 2023

Já pensou como será sua carteira de investimentos quando declarar o FIRE? Como gerar a renda necessária para viver?

 


Boa tarde Finansfera! Tudo bem com vocês? 


Esses dias ouvi um podcast da gringa que me fez refletir sobre a estratégia de carteira para o período FIRE (após aposentadoria) e como essa estratégia deve ser diferente da estratégia da fase de acumulação e optei por trazer essa discussão para o blog...

O caminho FIRE é um caminho longo para a maior parte de nós (variando de 10 a 30 anos) e é normal que nossa carteira sofra mudanças/evoluções nesse período dado o nosso amadurecimento (tanto na área de investimentos como na vida mesmo) e também a carteira sofre mudanças de acordo com a nossa proximidade de atingir a nossa meta FIRE. 

Mesmo no FIRE o caminho até a aposentadoria é longo...


No início do caminho estamos mais propensos ao risco, mas ao mesmo tempo temos menos informações e acabamos iniciando o caminho pela renda fixa...rapidamente aprendemos um pouco sobre a renda variável e conscientemente (ou não) entramos com parte da carteira na renda variável (ações, FIIs,etc). Com o passar do tempo e nosso envelhecimento começamos a valorizar uma diversificação da carteira e nos tornamos cada vez menos "corajosos" e mais conservadores. E então quando chegamos por volta do meio caminho da maratona chamada "caminho FIRE" começamos a nos perguntar: " Como deve ser minha carteira durante minha vida FIRE?" 

É fato que nossa carteira tem que ser diferente da fase de acumulação, uma vez que nosso foco passa a ser mais gerar renda sustentável do que ter crescimento exponencial. É claro que você pode adotar uma estratégia de venda de ativos ao invés de geração de renda, mas mesmo na estratégia de venda de ativos é necessário minimizar a oscilação das cotas ou ter formas de não vender ativos sempre na baixa.

Outro ponto importante é que não adianta você montar uma carteira para o período FIRE logo antes da "aposentadoria". Uma carteira FIRE tem que ser testada com bastante antecedência e por um período considerável, uma vez que no período FIRE não devemos fazer testes ou mudar muito as estratégias da carteira com o risco de comprometer do o plano FIRE. Temos que fazer isso antes do período FIRE de forma a testar e adequar a carteira ao que funciona para cada um de nós. 

Minha estratégia pessoal é montar a carteira FIRE cerca de 4-5 anos antes de realmente virar FIRE e viver nesse período apenas com os rendimentos dessa carteira. Nesse período os ganhos com salário serão investidos em outra carteira independente, de forma a conseguir emular a vida FIRE durante um período longo e conseguir, tranquilamente, fazer as adequações necessárias na carteira. Se funcionar bem durante esses 4-5 anos, a tendência é que funcione nos próximos 20 anos...

Hoje a estratégia que considero a melhor é uma estratégia baseada na "teoria dos baldes". Quem quiser entender melhor a teoria é só buscar no google ("bucket strategy FIRE"), mas abaixo deixarei uma descrição simplificada. Ela é uma teoria criada por americanos e pensada no mercado americano...ou seja...não dá pra aplicar sem adequar à nossa realidade brasileira. 

Teoria dos Baldes - Melhor estratégia que conheço para o FIRE...

Na teoria original você cria um número de "baldes" para distribuir seus investimentos, sendo basicamente no mínimo 2: O primeiro tem como função ser o balde dos gastos/reserva de emergência. Tipicamente se carrega com cerca de 2-3 anos de gastos e em épocas de crise você consome parte desse valor de forma a evitar a venda de ativos em momentos de baixa de mercado (os ativos são formados por renda fixa americana - bonds). No segundo balde você coloca os investimentos em ações e afins, sendo que estes investimentos tem como função manter o crescimento da carteira no longo prazo e são protegidos pelo balde 1. Em tempos de crescimento ou baixa do balde 1, o balde 2 tem função de encher o balde 1 com a venda de ativos (e dividendos). Em algumas fontes essa teoria tem um balde intermediário entre o 1 e 2 apontados acima onde se colocam ativos intermediários geradores de renda que ajudam a compor o pagamento dos gastos junto com o balde 1.

Ao meu ver a teoria original não é muito útil na realidade brasileira pois desconsidera uma característica muito forte da nossa realidade: Aqui a renda fixa, devido aos nossos juros elevados, tem lucratividade alta e pode ser vista como gerador de riqueza no longo prazo. Por esse motivo eu prefiro adequar a teoria original para a seguinte:

Balde 1 - Reserva de emergência - Nesse balde deixamos entre 2 e 3 anos de gastos investidos em um tesouro direto SELIC, CDB 100% CDI ou outra modalidade de investimento seguro e com liquidação imediata. A função é garantir a complementação do balde 2 no pagamento das nossas despesas mensais. Este balde deve ser recarregado sempre que utilizado pelo balde 2.

Balde 2 - Geração de Renda - Nesse balde deixamos FIIs, ações com foco em dividendos e títulos de renda fixa geradores de renda (TD IPCA+ com semestralidade, Debentures, CRI/CRA, entre outros). A função desse balde é manter os ativos que gerarão renda mensal/trimestral/semestral que serão utilizados para pagar as nossas despesas mensais. Lembrando que parte dessa geração de renda deve ser reinvestida nesses ativos afim de manter o crescimento da renda na proporção da inflação, de forma a manter o rendimento no longo prazo.

Balde 3 - Crescimento e Hedge - Nesse balde colocamos um misto entre ativos internacionais de forma a proteger a carteira do efeito Brasil (ou grandes mudanças de câmbio), ativos de renda variável com foco em crescimento (ações BR) e também ativos de renda fixa não líquidos (CDBs, LCI/LCA/LIGs, entre outros). Esse balde só deve ter ativos vendidos caso seja necessário para repor o balde 2 ou balde 1. O foco desse balde é no longo prazo e por isso não devemos vender ativos desse balde a não ser em caso de perda de fundamentos de algum ativo.

A proporção da carteira entre os baldes deve variar de acordo com seus gastos mensais e tamanho da carteira, mas eu trabalho com uma distribuição de 70 % no balde 2 e 30 % no balde 3 (o balde 1 nem considero investimento - é 3 anos de gastos mantido em investimento atrelado ao CDI). Isso é para a minha realidade e estratégia...cada um tem que pensar no seu caso específico. 

Por enquanto ainda não implementei essa estratégia uma vez que ainda estou em fase de acumulação de patrimônio e ainda não estou muito perto da fase de testes da carteira FIRE (ainda tenho uns 4-5 anos antes disso), mas hoje, se estivesse há 4-5 anos de declarar FIRE, testaria essa carteira descrita por algum tempo pra ver se funciona tão bem na prática quanto na teoria. 

E vocês colegas? Tem uma estratégia preferida para a época FIRE? E a estratégia atual de vocês? Como está?


Grande abraço!


VVI







17 comentários:

  1. Acho que não faz sentido mudar a alocação num momento onde você tem o maior patrimônio da sua vida e onde a maior parte é ganho de capital não realizado. Eu apenas vendo o suficiente pra gastar. Por causa do FIRE eu espero uma vida muito longa a partir da aposentadoria e por isso ainda há tempo suficiente para a RV fazer a sua mágica.

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    1. Boa tarde InvestIF! Existem várias estratégias para o período FIRE...Cada um tem que decidir a que se adequa a sua vida. Eu pessoalmente acho que a nossa carteira deve se adequar ã nossa necessidade naquele momento de vida. Quando jovens, podemos correr mais riscos e imobilizar nosso patrimônio por mais tempo...Quando estamos no FIRE, temos que focar e gerar renda para pagar nossos gastos (ou ter ativos que possamos vender sem muito risco de vender na baixa). Só acho que essa alteração de carteira tem que ser feita de forma devagar e controlada para não causar risco de perdas... Grande abraço!

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  2. Olá VVI. Eu penso em ter uma aposentadoria mista de patrimônio e renda, então penso em ter um "balde" de CDI liquidez diária + B5P211 com uns 2 anos de despesas, outro balde de ações, renda fixa sem liquidez para vender só o necessário para completar o primeiro balde e parte da renda vindo de FII, tesouro Renda+ ou tesouro com juros semestrais e uma previdência privada que possuo.
    É interessante pensar no primeiro balde como uma reserva de emergência maior do que a que eu tenho hoje, e faz sentido, uma vez que hoje gasto apenas 30% do meu salário e quando me aposentar ficarei com uma renda mais apertada com gastos de 80% do máximo que poderei gastar. Não sei se consegui explicar ou ficou confuso :P
    Abraços.

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    1. Boa noite Mendigo! Vejo sua estratégia próxima à minha. Concordo plenamente na importância do.primeiro balde como reserva de emergência. Ter que vender ativos geradores de renda ou crescimento em época de baixa pode colapsos qualquer estratégia FIRE, assim uma autonomia considerável é algo muito importante. Eu entendi sim sua argumentação! Não ficou confuso...Grande abraço!

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  3. Nunca acreditei muito em fire ou IF. Pra mim tudo sai do principal, aluguel de imóvel, juro da renda fixa, pra quem investe em ações e fiis, os dividendos que recebe, etc...A renda que existe de verdade pra mim é só do trabalho. Claro que quem tem 20 milhões na renda fixa pode viver bem de renda até com selic em 2% ao ano porque é muito dinheiro, mas ai é o exemplo do burro, fora da realidade.

    Igual aluguel de imóvel, não dá pra ficar fazendo conta de rentabilidade com a valorização do imóvel. Tirei o meu da imobiliária que na época teria alugado por 500 pra alugar por 400 pra bons inquilinos que eu sabia que iriam ficar muito tempo, já estão desde setembro de 2021 no imóvel. Não é qualquer um que consegue bom inquilino por mais tempo.

    Só aplico em renda fixa, ações, fiis não me servem. Só quero saber de ganhar mais trabalhando pra poupar mais.

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    1. Boa noite PC! Eu não vejo diferença entre renda de trabalho e investimentos...ambos.pagam minhas contas. Eu acredito que o caminho FIRE não é pra qualquer um, mas também não precisa ser um milionário com R$20MM pra conseguir atingir o FIRE. Conheço algumas pessoas que atingiram e continuam depois de muitos anos conseguindo manter as finanças mantidas pelos investimentos já considerando a inflação. Mas cada um tem sua estratégia... Grande abraço!

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    2. Com certeza, conheco casal FIRE com 800 mil reais investidos,e vivendo tranquilo na praia!

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  4. Basicamente o que o AA40 já tinha postado, mas sempre válido

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    1. Boa noite Anon! Resolvi falar sobre isso assunto exatamente após ler o post do AA40! Adaptei a teoria dele para chegar ao meu plano que apontei no meu post. Grande abraço!

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  5. Muito interessante. Eu não conhecida essa ideia dos "baldes", mas já vinha pensando na forma de alocar recursos na carteira na fase de IF tendo algo desse tipo em mente. Vou tentar elaborar algumas ideias sobre isso na minha próxima publicação mensal.

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    1. Boa noite Jardineiro! Essa estratégia dos baldes é muito comum na gringa e eu realmente acredito que possa ser adaptada com sucesso para a nossa realidade...Uma coisa é certa sobre a carteira na fase FIRE: Ela tem que ser simples. Grande abraço!

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  6. Muitos americanos refutam a idea dos baldes, como o Big ERN por exemplo. Ele acha que isto é besteira é que uma carteira 75% renda variavel e 25% RF é capaz de suportar um saque de 3,5%aa sem precisar de baldinhos. O que acha disso?
    https://earlyretirementnow.com/2023/01/25/discussing-retirement-bucket-strategies-with-fritz-gilbert-swr-series-part-55/

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  7. Boa tarde Anon! Eu acho que existem várias estratégias e cada uma pode encaixar melhor com uma determinada pessoa. Não há uma estratégia que funcione com todo mundo e por isso cada um de nós tem que estudar e montar a estratégia que se encaixe melhor com a nossa forma de pensar. Um ponto importante quando seguimos análises gringas é que temos que adaptar as teorias para a realidade brasileira antes de pensar adota-las. Por exemplo, o mercado de ações americano é muito mais forte e confiável que o nosso. Por outro lado a renda fixa não vale nada em questão de rentabilidade. Aqui já temos um cenário diferente. Por isso acho que uma carteira 75% RV + 25% RF pode não ser uma boa ideia pra alguém na fase FIRE....A própria regra dos baldes tem que ser adaptada pra nossa realidade...Gosto de separar os ativos pela sua função na carteira e a estratégia dos baldes se encaixa muito bem com isso dando uma grande clareza na atuação da carteira. Grande abraço!

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  8. Olá VVI, já li um pouco sobre essa teoria dos baldes, eu fui influenciado um pouco na hora de montar minha carteira por essas teorias, por isso sempre pensei em ter uma boa parte em renda fixa, outra em ativos geradores de renda e outra em ativos pra crescimento. Pro meu caso o dia que decidir me aposentar não vou precisar mudar muita coisa, talvez aumentar os percentuais em renda fixa, tudo depende do valor que eu tiver alcançado no final. Abraços

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    1. Boa noite Bilionário! Eu pensava inicialmente em ter uma carteira focada em crescimento e com o tempo ir migrando ela para renda a fim de me adequar ao período FIRE mas hoje já penso que poderia ser melhor focar mesmo em uma carteira de renda desde o início. Não existe a fórmula perfeita...Pra mim o importante é montar uma carteira FIRE e testa-la pelo menos alguns anos antes de declarar o FIRE...Uma vez no FIRE não dá mais pra testar carteiras...é seguir o plano original...Grande abraço m!

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  9. Ainda não sei como será minha estratégia quando me aposentar, mas com certeza não será a atual: 100% em small caps! kkk

    Abraço!

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  10. Boa tarde Uó! Cara, até para alguém na fase de acumulação essa sua estratégia é peculiar e corajosa! rsrs. Boa sorte com ela! Grande abraço!

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