sábado, 25 de setembro de 2021

Investimento no Exterior - Diretamente USA x Diretamente Irlanda x via BDRs

 

 Boa noite Finansfera!


Com a nossa recente inflação galopante e desvalorização do real, cada vez mais é importante protegermos nossa carteira através de investimentos globais em moeda forte. A boa notícia é que nunca foi tão fácil investir fora do país...Abrir contas diretamente no exterior sem custos ou até através da B3 via BDRs são ações simples hoje em dia...

 Quando falamos em investimentos no exterior, acredito que o mais importante é  investir da forma que te deixe seguro e nem tanto investir na alternativa que vai te oferecer mais retorno.

 

É natural com a Globalização que nossos Investimentos também se tornem Globais


Alguns pontos que acho importante que todos que forem investir no exterior devem estar cientes:

Quando investimos fora do país temos que levar várias questões até então não relevantes nos nossos investimentos nacionais ou que podem ser muito diferentes das que estamos acostumados. Entre os principais que acredito estão:

1 - Obrigações tributarias com a Receita Federal Brasileira relativos a estes investimentos: O fato de investir diretamente fora do país não nos isenta do pagamento de impostos e declarações de ativos no IRPF. Se o investidor não se atentar a isso corre o risco de cair na malha fina. Vendas acima dos limites isentos, dividendos, entre outros eventos que geram lucro podem sim pagar imposto no Brasil mesmo que a venda tenha sido no exterior - Estude bastante o

2 - Obrigações tributárias com a Receita Federal do País onde se Investe - É muito importante entender suas obrigações se investir diretamente fora do país, uma vez que você deve seguir as regras da localidade, às vezes tendo que pagar impostos ou declarar ativos no país.

3 - Dificuldades para envio e repatriação do dinheiro investido - Deve-se lembrar que para enviar dinheiro para fora existem custos de câmbio e tempos normais entre o envio do dinheiro e o recebimento na outra ponta.

4 - Órgãos de controle e justiça "inacessíveis" - Muitas vezes a corretora e o responsável pelo ativo no qual você investe não tem representação no Brasil, o que impede/dificulta que você possa tenha contato rápido com ele ou acesse sistema de justiça/código de defesa do consumidor em caso de problemas...Você teria que o fazer no País de origem da corretora/ativo com todas as dificuldades e custos que isso pode acarretar...

Estas questões não são simples e devem ser estudadas com cuidado. O bom é que existem dezenas de vídeos no Youtube que te ajudam a entender essas regras. Recomendo fortemente o canal do Otávio Paranhos no Youtube que apresenta muita informação de graça e de qualidade sobre o assunto. Também recomendo o vídeo do Primo Rico que tirando a parte "propaganda" também é bem interessante. Segue o link:

https://www.youtube.com/watch?v=3xJa12TsQBY

 Agora...uma vez decidido e pronto para investir no exterior, quais são as principais opções?

Vejo basicamente 3 formas de investir diretamente fora (não conta indiretamente via fundos de investimentos no Brasil). Abaixo apresento o que penso sobre estes 3 tipos de investimento, mas lembrem-se que não estou recomendando investimentos e não sou profissional na área, apenas uma pessoa normal que estudou e investe fora...

 

BDR (Brazilian Depositary Receipts)

 

O BDR é um recibo emitido pela B3 que você compra e te garante "a posse do ativo internacional" referente ao BDR específico. No papel o dono da ação seria a B3, mas você teria uma garantia de repasse deste em seu nome (na teoria vocẽ conseguiria até solicitar a transferência da ação internacional para sua conta...na teoria...). 

A vantagem é que você compra rapidamente diretamente no mercado como se fosse uma ação BR via Home broker e uma vez que a compra é em reais e o ativo é garantido pela B3 (no Brasil) você não tem que se preocupar com as regras tributárias no país de origem da ação (de forma simplificada é como se você comprasse um fundo de investimentos concentrado em um ativo só). Na prática você tem um ativo que está lastreado em moeda forte e caso o real desvalorize seu ativo tem o preço corrigido também para cima mantendo o valor do seu ativo em relação à moeda forte. 

As desvantagens na minha opinião são o custo de custódia do BDR (vocẽ paga comissão pelo recibo BDR) e que apesar de corrigido pela variação cambial e valorização do ativo em moeda forte, o ativo continua estando no Brasil e de posse da B3 (estando acessível pelo governo brasileiro e ligado a liquidez e saúde da B3). Outras desvantagens são que só é possível investir nos ativos que a B3 oferta BDR (valor pequeno em relação as opções do mercado) e também que os BDRs não contam com a isenção de imposto de vendas que as ações BR tem (R$20k/mẽs). Paga-se 15% do lucro na venda como imposto...


Ativos diretamente no Exterior - USA

 


A maior parte das corretoras que atuam no Brasil e que oferecem investimentos diretamente no exterior oferecem a possibilidade de investimentos em ativos negociados nas bolsas americanas. 

A vantagem dessa opção é que existem diversas corretoras oferecendo contas sem custo e com facilidades para brasileiros (atendimento em português, câmbio simplificado, relatórios para IRPF, etc), além de seus ativos serem mantidos em seu nome e fora do país (livre de qualquer ingerência política do governo brasileiro). 

As desvantagens ao meu ver seriam o fato de você estar restrito às bolsas americanas e com isso exposto às regras americanas de IR para dividendos (30% do valor dos dividendos) e o IR sobre herança (acima de USD 60.000, seu familiar teria que pagar alíquotas de IR para o governo americano que podem chegar a até 40 % do valor total do seu investimento no caso da sua morte para recuperar o valor investido). Outra grande desvantagem é que como o ativo está fora do país você está vulnerável às mudanças de leis tributárias tanto dos EUA quanto do Brasil. Ambos os países podem tornar sua vida um inferno caso as mudanças nas regras tributárias te atinjam em cheio.

 

Ativos diretamente no Exterior -Irlanda - ETFs

 


Algumas corretoras acessíveis a nós brasileiros permitem a abertura de conta e investimentos em ativos sediados em diversos paises e acesso a diversas bolsas pelo mundo. Em especial vale a menção aos ativos domiciliados na Irlanda (Exemplo de corretora que permite acesso a mercados globais: Interactive Brokers). 

A Irlanda oferece várias vantagens tributárias para investidores internacionais, o que permite que nós brasileiros consigamos maximizar o rendimento dos nossos ativos utilizando ETFs de acumulação que apesar de serem sediados na Irlanda, são espelhos de ETFs consagrados americanos. Assim, quando estes fundos americanos pagam dividendos, existe um acordo entre USA-IRLANDA que o pagamento de IR nesse caso é de 15 % entre fundos e como o fundo é de acumulação e vocẽ não recebe dividendos, não tem que pagar IR no Brasil ou outro lugar pelo dividendo (apenas em caso de venda dos ativos acima do limite isento do Brasil que hoje é de R$35k/mês). Além disso, essas corretoras que ofertam estes produtos oferecem produtos pelo mundo todo, sendo possível vocẽ investir em quase todos os mercados do mundo diretamente (e muitas vezes na moeda do pais escolhido) - muito mais ativos que apenas o mercado americano.

A principal desvantagem destes ativos na minha opinião é o fato que você esta indiretamente ou diretamente exposto as regras tributárias de três países (Brasil - EUA - Irlanda) e qualquer mudança tributária maior pode te impactar diretamente. Além disso essas corretoras que ofertam estes ativos normalmente não oferecem muitas facilidades para brasileiros, sendo necessário um pouco mais de atenção pelo investidor no controle de suas operações para não ter dor de cabeça na época da declaração de IRPF.

 

 Meu Caso

 

Eu pessoalmente invisto diretamente tanto via corretora e ativos nos EUA (via Passfolio) quanto via corretora com ativos na Irlanda (via IB). Não tenho ainda BDRs, uma vez que prefiro economizar os valores de taxa de administração dos BDRs tendo os ativos diretamente. Apesar disso, a cada dia que passo fico mais preocupado com o risco de alterações nas regras tributárias nos EUA - Irlanda - Brasil me impactarem em cheio e eu acabar tendo grande prejuízo para me adaptar a nova regra ou repatriar meus ativos. É um risco relativamente pequeno mas existente e se ocorrer, vai ser doloroso, uma vez que já tenho cerca de 25% da minha carteira gerenciável no exterior...

Aconselho que cada um pense com cuidado nos prós e contras de cada alternativa para não acabar se arrependendo da decisão.

Honestamente estou pensando em passar a investir com foco no exterior também via BDRs para minimizar meu risco apontado acima (ainda estou pensando se vale a pena). Uma diversificação entre ativos internacionais fora do país e através de BDRs (ou através de ETFs de índices internacionais vendidos no Brasil como IVVB11) pode ser no final uma melhor opção para não deixar "todos os ovos internacionais no mesmo cesto". Tenho lido algumas notícias que o Biden tem avaliado alterações tributárias que podem impactar investidores estrangeiros e investindo diretamente sou responsável por entender essas mudanças e preparar uma estratégia para evitar ao máximo impactos na minha estratégia... Além disso a reforma tributária atual ainda não mostrou mudança em relação ao tratamento de ativos no exterior, mas pode ser que no Senado apareça algo que impacte nós investidores internacionais...tudo pode acontecer em relação a Brasil...

Mas em geral, pretendo manter minha proporção de 25% da carteira gerenciável em ativos vinculados ao mercado global e moeda forte...Brasil não está fácil e nossa moeda cada vez está mais fraca (e nossa inflação mais alta).


E você, investe no exterior? Como faz? O que pensa sobre o que apresentei nesse post? Tem receio de mudanças tributárias atrapalharem seus investimentos fora?


Grande abraço!


VVI







5 comentários:

  1. Bolsa no Brasil é isso, você perde em 3 meses o que ganhou em 5 anos ! Brasil é só renda fixa pra mim, quer investir em empresas, só fora.

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    1. Boa noite Anon! Tenho a tendência a pensar assim também, mas por outro lado fico preocupado de deixar boa parte do patrimônio fora do país e acabar sendo surpreendido por alguma alteração de regra tributária do país de domicílio dos ativos ou até do Brasil sacaneando quem investe diretamente fora...Isso não te preocupa? Tenho ficado preocupado com isso...
      Grande abraço!

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  2. Vou guardar o seu post para o futuro; por enquanto, só Tesouro Direto por aqui. Mas como sou de um país que só pensa em dólares, acho muito importante aprender a investir fora também. Grande abraço! (Muna)

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    1. Bom dia Muna! Investir fora é algo quase obrigatório atualmente, ainda mais com o aumento do risco Brasil. Não adianta conseguir juntar bastante em reais se o valor do real despencar- No fim perdemos o poder de compra do mesmo jeito.
      Você está certa em ir devagar nos investimentos! No futuro vai chegar a hora de você começar a diversificar a carteira e seguramente vai se aventurar nós investimentos internacionais... é um processo natural no qual todos nós chegamos em um determinado ponto (comigo foi uns 3-4anos depois que comecei a investir). Sem dúvida com você será mais rápido pois hoje em dia existem muitas formas diferentes e simples de investir fora...
      Grande abraço!

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  3. É complicado demais.

    Eu estou atirando um pouco pro exterior, pela Avenue, mas pelos meus estudos, pra mim seria mais vantagem comprar o IVVB11 aqui no Brasil mesmo, porque perde muito no spread, tanto no envio quanto na hora de trazer de volta. Só que ao mesmo tempo acho horrível essa história de ETF não distribuir dividendos por aqui, porque o ETF sendo negociada na bolsa eu desconfio que não fecha 100% os reajustes/incorporação dos dividendos no preço do ETF... enfim, complicado demais.

    Abs

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