quarta-feira, 21 de julho de 2021

Ativos de Renda Fixa - Estamos limitados a CDBs e TD?

 

 

Bom dia Finansfera! Como estão?


Nesse post resolvi falar um pouco sobre opções de renda fixa com foco em recebimentos de proventos e opções que muitas vezes são ignoradas nas discussões da Finansfera - a maior parte das vezes que vejo discussões sobre ativos que distribuem renda, estamos falando de ações com foco em dividendos ou FIIs. No máximo vejo algo sobre títulos públicos com prêmio semestral (com a baixa taxa de juros este último esteve em risco de extinção). Mas será que são as únicas opções? Sempre me perguntei o por quẽ a Finansfera fala tão pouco de opções como debentures, CRIs e CRAs como ativos distribuidores de renda...Na minha opinião se o investidor tomar certos cuidados estes ativos oferecem excelentes oportunidades nesse cenário atual de alta de inflação.

 

 Pouco a pouco a carteira vai florescendo...

 

Normalmente debentures incentivadas e CRI/CRAs do tipo IPCA+Juros tem uma vantagem incrível nesses tempos de inflação elevada: isenção de IR. Uma coisa que poucos se atentam quando comparam a lucratividade de ativos é o fato que o IR nos ativos IPCA+Juros é calculado não só encima do valor dos juros, mas também na inflação: ou seja, pagamos IR também pela parcela da Inflação! Um exemplo para ficar claro:

Um ativo hipotético que paga IPCA+5%aa e tem vencimento em 2 anos rende o equivalente ao valor inicial investido + (IPCA equivalente de 2 anos+5%aa). Se investirmos R$10.000 e a inflação for de 10% no período, o valor bruto do ativo no final do período seria: R$12.100. Porém, do valor da rentabilidade é necessário retirar os 15% de IR e o valor final líquido seria R$11.785. Levando em consideração a inflação no período, os R$10.000 investidos seriam equivalentes a R$11.000 no fim do período. Ou seja, quem fizesse esse investimento no final teria rentabilidade real de R$785 (cerca de 7% do valor - de forma grosseira equivalente a 3,5%aa)...Por causa do valor do IR considerar a parcela de inflação, sua rentabilidade real contratada (5%) teve uma queda de cerca de 30% ao invés dos 15% do IR...Quanto maior a inflação, pior é sua lucratividade devido ao IR, podendo inclusive em cenários de elevada inflação anular completamente a seu ganho real...

Isso acontece para CDBs, LCs e TD. Por isso, tem que pensar muito bem e estimar a inflação no período para avaliar se vale ou não a pena o investimento nestes ativos.

Uma alternativa para fugir dessa questão seria investir em ativos isentos de IR. Temos as LCI/LCAs mas raramente encontramos lucratividade interessante nesses ativos. Outra opção que temos são as debêntures incentivadas e CRI/CRAs que nos últimos tempos tem oferecido boas lucratividades (na minha opinião).

Qual a desvantagem desses ativos? Basicamente vejo três principais (sendo um que pode ser visto como vantagem ou desvantagem dependendo do seu caminho pro FIRE). A principal desvantagem é que estes ativos não são garantidos pelo FGC, existindo real risco de crédito. Se a empresa da Debenture Incentivada/CRI/CRA entrar em recuperação judicial, esses papéis podem virar pó... Assim é importante que o investidor conheça a empresa em que está investindo e avalie bem o risco /retorno do ativo não só na data do investimento, mas em todo o período em que o dinheiro for mantido investido (eu pessoalmente invisto apenas em ativos de empresas grandes com baixo risco no período investido).

O segundo é o fato destes ativos normalmente exigirem que o valor investido seja alocado por longos períodos sem liquidez (5-15 anos). Assim o investidor tem que ter ciência que não pode contar com esse dinheiro no período (pode-se fazer uma estratégia "escadinha" pra minimizar essa desvantagem).

O terceiro é o fato destes ativos normalmente distribuírem os juros de tempos em tempos (mensalmente, semestralmente, anualmente, etc). Essa distribuição minimiza o efeito "bola de neve" do crescimento exponencial do ativo...Mas por outro lado, para quem vive de proventos é uma excelente característica...

Não é difícil encontrar nas principais corretoras debentures incentivadas /CRI/CRAs que pagam acima de IPCA+4%, lembrando que não tem IR! Ou seja, acima de IPCA+4% líquido para um ativo de renda fixa! E isso independente da empresa ter lucros altos ou baixos...obviamente desejamos que a empresa vá bem para isolar a chance dela quebrar, mas comprando ativos de empresas antigas, sólidas e com endividamento controlado esse risco é baixo...Como exemplos de ativos que pagavam mais que IPCA+4% (vencimento entre 2025-2030) recentemente temos COPEL, CEMIG, JBS, Marfrig, Eletrobras, entre outras.

Considero esses ativos ótimas opções para manter uma boa lucratividade e manter os ativos em renda fixa. Obviamente como todo tipo de ativo, temos que ter cuidado para não expor demais a carteira a um ativo único ou tipo de ativos, mas acredito que estes mereçam atenção neste momento atual de alta inflação.

E vocês? Por que investem/não investem em debentures incentivadas e CRI/CRAs? Alguma vantagem ou desvantagem que não citei?

Grande abraço!


VVI


 

12 comentários:

  1. Olá VVI, bom dia

    Concordo com você, pois existem diversas opções de renda fixa que são negligenciadas pelo investidores. Eu adoto a estratégia "escadinha" e estou satisfeito com os resultados.

    Referente ao calculo do IR, acredito que tenha um pequeno equivoco: a alíquota de IR (que pode variar de 22,5 a 15%) no exemplo foi de 15% e deve ser aplicada sobre a rentabilidade.

    Valor aplicado: R$ 10.000,00
    Prazo: 2 anos (acima de 720 dias)
    Valor bruto: R$ 12.100,00
    Rentabilidade: R$ 2.100,00
    IR devido (15% de R$ 2.100,00): R$ 315,00
    Valor resgate: R$ 11.785,00
    Lucro bruto: 17,85%
    Lucro real (descontado a inflação): 7,1%

    Observa-se que o lucro real (7,1%) fica bem abaixo dos 10%. E a situação piora quanto maior for a inflação. E concordo em avaliar as opções isentas de IR, desde que feitas com atenção das empresas e instituições.

    Abraços,

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde VAR! Realmente na correria acabei jogando o IR encima do valor total e não da rentabilidade. Já revisei o post. Obrigado por apontar o erro! Tb adoto a "escadinha" e estou satisfeito tb...acho estranho como poucas pessoas pensam nesses ativos... grande abraço!

      Excluir
  2. Pra mim renda fixa só tem 1 objetivo: Liquidez. Nesse quesito optaria por Tesouro pois é a única forma de eu ter certeza que estou recebendo proporcional ao risco, sem custo de intermediários.

    Isso de ficar buscando rentabilidade em renda fixa é historicamente besteira. Se for para correr risco que seja em algo que recompensou estatisticamente de forma proporcional esse risco: Renda variável, de preferencia em moeda forte.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Historicamente Besteira? Nao fale besteira, Selic e CDI desde 1995 batem até a bolsa. Pare de mentir e vai planilhar

      Excluir
    2. Boa tarde Sisifo! Pois é, esse ponto de vista eu ouço de várias pessoas mas confesso que não consigo enxergar isso na realidade. A renda variável é um instrumento de risco que dado horizontes longos (mais de 20 anos) tende a dar melhor retorno, mas em horizontes da ordem de 10 anos você corre o risco da carteira andar de lado...Além disso o risco da marcação de mercado da ação é diária e varia com o lucro, endividamento,etc da empresa. Esses ativos de dívida (DEB/CRI/CRA)independente da empresa dar lucro ou não, variação de mercado, etc tem o valor da renda pré-definida...O risco é o calote da empresa, o que pode ser minimizado escolhendo boas empresas e horizontes não tão distantes. Concordo que perde-se na liquidez, mas esses ativos seriam apenas parte da carteira... Obrigado por compartilhar sua visão! Grande abraço!

      Excluir
    3. Boa tarde Anon! O que o Sisifo disse tem fundamento em um determinado período, da mesma forma que a Bovespa apanha pro CDI em outro determinado período. O segredo, na minha opinião, é diversificar a carteira a fim de minimizar os riscos de perdas (mas infelizmente também limita os ganhos). Grande abraço!

      Excluir
    4. @Anon
      Bate que bolsa? Ibovespa? Era um índice horrível até 2016, sem falar nas taxas que eram altíssimas. No mais, brasil é disfuncional por isso indiquei em moeda forte, dolariza esse investimento aí em CDI para ver o que aconteceu nesses 25 anos. E não existe nenhum produto sem vencimento de renda fixa no brasil, então tem que contar os impostos pagos na reaplicação desse tempo.

      E de fato, VVI, renda fixa começa a fazer sentido para intervalos menores que 10 anos, mas em ultima instancia se resume ao que eu falei: Liquidez. Renda fixa se usa quando o dinheiro tem um prazo determinado.

      Fui em feliz ao falar que é "besteira", só acho que não é a melhor forma de usar seu tempo, pois como disse, no fim não tem como saber realmente o risco que estamos correndo. Esse risco não é só o calote, pode ser risco mais amplo, como você mesmo disse o próprio risco do IPCA alto reduzir o retorno real. Isso sem falar que o IPCA nem sempre retrata a perda do valor do dinheiro de fato.

      Excluir
    5. Boa tarde Sisifo! Tranquilo, gosto de ler opiniões diferentes da minha, pois é assim que aprendo...Sobre o risco do IR atigir muito devido a inflação, esse seria mitigado pela compra de ativos isentos de IR (DEB/CRI/CRA). Sobre o risco de a inflação real ser diferente do IPCA, considerando um país democrático acredito que isso pudesse ocorrer por um pequeno período de tempo, e como esses investimentos são de médio prazo (5-10anos) no valor médio o IPCA acumulado seria próximo do real...mas concordo que seja um risco (apesar de achar que também impactaria a RV). Eu pessoalmente trabalho com um objetivo da carteira de Inflação+4%aa líquido pra lucratividade de longo prazo. Ultimamente não vejo poucas opções de empresas boas que pagam mais que isso... Mas com certeza não vou colocar 100% da minha carteira em só um tipo de ativo por melhor que esteja a rentabilidade...Grande abraço!

      Excluir
    6. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

      Excluir
  3. Lógico, tenho 22 anos e 70% da minha carteira está em renda fixa. Maior parte em CDBs mas estou começando a arriscar em debêntures ultimamente. Sem FGC me deixa um pouco hesitante porém

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde Anon! É normal começarmos com a RF tradicional e com o tempo ir diversificando mais...Acredito que o segredo é não colocar todo o dinheiro em apenas um grupo de ativos...Diversificação é tudo!
      Grande abraço!

      Excluir
    2. 30% em bolsa é muito para o Brasil, IMHO

      Excluir