domingo, 11 de julho de 2021

A Complexa Análise da Relação Risco/Retorno de um Ativo para a minha Carteira

 Bom dia Finansfera!


Essa semana avaliei uma oportunidade de investimento em um ativo de renda fixa que considero estar com uma lucratividade elevada e estava estimando o custo benefício dele em relação às demais oportunidades do mercado. Nesse momento me veio a cabeça os passos que geralmente sigo para classificar o risco/retorno de um ativo, inclusive avaliando ativos de características diferentes (exemplo: renda fixa e renda variável). Dada essa análise achei interessante escrever esse post para apresentar minha forma de avaliação e se possível receber retorno dos colegas da Finansfera sobre seus métodos, a fim de avaliar o meu e aprimorá-lo com as contribuições...

 

   Nossa visão de futuro quando começamos a montar a carteira...


  ...e a realidade depois de alguns anos...

 

Antes de começar é interessante lembrar que não sou especialista e os passos que sigo foram fruto da minha experiência pessoal, sem nenhuma base financeira sólida...

Para contextualizar, me considero uma pessoa de perfil moderado. Como já divulguei em outros posts, tenho investimentos diretos em ações tanto no BR quanto fora, mas ainda gosto de manter uma concentração considerável em renda fixa no BR (cerca de 40% da carteira) pois apesar de ter claro na cabeça a característica cĺíclica da renda variável, gosto que essas flutuações tenham um efeito limitado na minha carteira total (apesar de saber que estou possivelmente sacrificando uma maior lucratividade no longo prazo por isso). Como é dito em vários canais: "Tenha uma alocação que te permita dormir bem a noite independente do mercado". Além disso meu caminho para o FIRE tem previsão de 10-12 anos, um período ainda longo, porém nem tão longo assim para garantir que uma alocação muito elevada em RV seja garantia de grande lucratividade. Temos histórico do mercado de períodos de 10 anos de baixa da RV. (normalmente andando de lado, perdendo até para o CDI - por exemplo como apontado nas notícias a seguir: https://einvestidor.estadao.com.br/investimentos/renda-fixa-ibovespa-ultima-decada e https://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/decada-perdida-da-bolsa.html ). Assim, se eu for azarado tendo uma "década perdida" nesse período 2021-2031, pelo menos não terei perdido tanto...

Outro ponto que sempre volta a minha cabeça é a expectativa de lucratividade média do mercado...sabemos que considerando o longo prazo temos uma rentabilidade média da RV e para a RF temos títulos/ativos de longo prazo que apontam essa tendência. Já li em blogs e estudos pessoas afirmando que renda variável tende a pagar entre inflação+6-8%, apesar do risco no curto e médio prazo de lucratividades maiores ou menores. Assim, como avaliar se vale a pena "arriscar" em um horizonte de 10 anos conseguir essa lucratividade ou vale a pena congelar uma taxa via renda fixa e ir pulando de vencimento em vencimento dos títulos adequando os papéis as taxas da época?

Não acho que a resposta seja simples e honestamente sou muito desconfiado quando vejo 99 % dos Youtubers de investimentos sempre apontando que a RV é a resposta. Não demonizo a RV (eu mesmo tenho grande parte da minha carteira nela), mas acho que existe um exagero na indicação da mídia para RV em detrimento da RF. Vejo muita gente investindo em RV sem realmente entender os riscos envolvidos, características e a necessidade de foco no longo prazo (mais de 10 anos). Me parece que há uma tendência a tentar empurrar muita gente não preparada para a RV para aquecer esse mercado sem se importar com as consequências negativas dessa introdução acelerada (pessoas que entram na RV sem entender direito são mais propensas a se traumatizar na primeira grande queda e não investirem mais em RV ou terem o comportamento que considero negativo pro mercado de efeito manada, o que acaba amplificando tanto altas e baixas de forma artificial no mercado (gera oportunidades para day traders, mas espanta possíveis buy&holders).

 


 Youtuber mostrando confiança em suas indicações do mercado...

 

Bom, dada essa introdução sigo a seguinte estratégia de avaliação: Tenho uma alocação de ativos desejada, fruto de avaliações de tempos em tempos (tipicamente uns 6 meses, mas varia - estou tentando tornar anuais, mas a ansiedade é uma grande inimiga que acaba me fazendo reavaliar o objetivo em menos tempo). Hoje minha alocação objetivo é 40% RF BR, 20% Ações Internacionais, 25% RV BR e 15% em Fundos Multimercados (essa alocação não considera reserva de emergência, PGBL e moedas estrangeiras por na minha visão estas não serem ativos terem estratégias de alocação já definidas). Estou bem próximo da alocação objetivo (ver figura abaixo), mas vejo essa alocação mais como "um desempate" e objetivo para o longo prazo do que para a decisão sobre um investimento único. Quando recebo alguma verba para investimentos avalio o valor (pois vários ativos apesar de bons exigem um valor mínimo), minha alocação objetivo, analiso o momento do mercado e a tendência que enxergo pro médio prazo (estamos em um tendência de alta de juros? qual a tendência da bolsa? e o dólar?). Após essa avaliação tento verificar as classes de ativos que estão pagando um bom juros acima da inflação (para RF) ou ativos que aparentam estar descontados (para RV).


 Minha Atual Alocação da Carteira por Tipo de Ativo

 

Considerando ativos de RV BR, avalio muito os relatórios da Suno Research e tenho a tendência a investir nas ações recomendadas por eles para as carteiras de valor e de dividendos (enquanto não me sinto seguro nos meus cálculos de valuation próprios - estou estudando e treinando). Também vejo mitos vídeos de valuation de ativos de grandes youtubers para "confirmar" o valuation apontado pela Suno. Outro ponto é que não invisto em ações de empresas que não vejo futuro de longo prazo ou empresas com casos de ma administração recente. Quando compro uma ação a tendência é mantê-la na carteira a não ser que o relatório Suno indique uma perda de fundamentos ou o valor esteja muito acima do valor justo indicado pelo valuation.

Para os de renda fixa, atualmente tenho avaliado/investido em debentures Incentivadas/CRIs/CRAs devido a isenção de IR e a tendência de inflação elevada (normalmente compro ativos que pagam IPCA+Juros). Como regra prefiro investir em ativos de prazo entre 4-7anos não comprando nada com mais de 10 anos. Além disso, só invisto em empresas que tenho uma visão de longo prazo na empresa e que já são grandes e sólidas (lembrando que estes ativos não tem garantia do FGC, assim tenho que saber o que estou fazendo).

Para os ativos de RV Internacional, por não conhecer bem o mercado internacional e me considerar um mero "peixinho no oceano cheio de tubarões" invisto apenas em ETFs neutros (atualmente nos ETFs irlandeses para economizar em impostos). O critério para investimento não está ligado ao valor do ETF mas sim a minha visão de longo prazo do risco Brasil e o valor do dólar. Se o dólar recua bem e vejo nuvens negras no horizonte, jogo dinheiro para fora. Se o dólar sobe e vejo uma tendência de melhora, invisto mais no país (ultimamente tenho feito essa avaliação só devido ao preço do dólar pois não tenho visto boas tendências pro Brasil no curto-médio prazo). Para não acabar jogando todo o dinheiro pra fora tento me limitar a alocação objetivo até a nova reavaliação onde essa alocação objetivo pode ser alterada.

 

  Eu investindo no mercado global via ETFs neutros...

 Para os fundos MM, não tenho tendência de alocação neles...São ativos antigos de uma época que não tinha coragem de investir diretamente em ativos de renda fixa e exterior e preferia fazer isso através de uma gestão profissional. Talvez por incompetência minha ou pouco tempo de investimento (2-3 anos) não gostei da rentabilidade média obtida com os fundos (pouco mais que o CDI retirando o IR em uma época de grande crescimento da RV). Achei a relação risco/retorno ruim, possivelmente devido as taxas de administração que diminuíam a lucratividade. Se for para errar e deixar de ganhar dinheiro, prefiro que seja por uma escolha minha... Assim estou me desfazendo aos poucos dos fundos MM menos lucrativos em avaliaçoes a cada 6/12 meses.

Agora, como eu comparo os ativos? Atualmente quando recebo um valor para investir, 50% dele é jogado em uma reserva de oportunidade e os outros 50% estão disponíveis para investimento. Este último valor é somado com os juros/dividendos/JCPs recebidos no período e dou uma geral nos investimentos gerais. O dólar está em um valor bom pra mandar dinheiro pra fora? meu limite internacional para a carteira objetivo já foi ultrapassado? Vejo alguma grande oportunidade BR? Se as respostas forem SIM/NÃO/NÃO, mando o valor para os ETFs Internacionais e distribuo conforme minha alocação objetivo. Se qualquer uma dessas perguntas não é conforme meu interesse, olho para os ativos BR:

Tenho um objetivo de rentabilidade que bata IPCA+4 % líquido por ano nesses 10-12 anos para os ativos BR (bastante ligado a regra dos 4%). Dessa forma se tenho uma forma de conseguir essa rentabilidade com menor risco, este investimento tem preferência por considerar o risco menor que investir em RV - este é algum dos motivos de ter uma RF elevada - quando consigo um ativo de RF (DEB/CRI/CRA) com lucratividade acima de IPCA+4 % (isento de IR) de uma empresa grande com boa base e horizonte abaixo de 10 anos tenho a tendencia em investir nesse ativo (uma quantia que não torne também esse ativo maior que uns 2-3 % da carteira total). Infelizmente os DEB/CRI/CRAs tem pagamentos de juros semestrais (normalmente) e isso atrapalha um pouco o efeito dos juros compostos, mas paciência - reinvisto em outros ativos os juros.

Se vejo uma grande oportunidade, posso utilizar a parte da reserva de oportunidade para alcançar um valor mínimo de um determinado investimento. Esse critério de utilização da reserva de oportunidade não é fixo...é no "sentimento" mesmo...

É assim que vou seguindo...quando o valor que tenho pra investir é baixo para entrar em um ativo que vejo futuro ou não acho nada interessante no mercado, jogo o valor de investimentos também na reserva de oportunidade para junto do próximo valor para investimentos estes dois comporem um valor superior que permita o investimento em ativos com valor mínimo (caso das RFs). Minha reserva de oportunidade fica em uma conta que rende 100% CDI...

Pra quem esperava uma equação matemática para a distribuição dos ativos ou um critério bem definido para alocação de ativos, me desculpe, não faço dessa forma...Existe uma grande influência do "achismo", mas espero que esse "achismo" seja muito influenciado pelas diversas pesquisas e leituras que faço semanalmente. Essa minha estratégia é vencedora? A resposta é não sei...Se olharmos minha lucratividade acumulada nesse ano, a resposta seria não...estou perdendo para a  inflação (IPCA). Apesar disso, acredito que essas estratégias devem ser mantidas por um tempo maior (alguns anos) antes que pensemos em mudanças. Uma coisa que sempre leio é que o pior que você pode fazer é ficar girando os ativos - vai perder as oportunidades de alta, pagar IR e ainda fazer a alegria dos assessores de investimentos (ganham por movimentação). 

 

 O difícil caminho para o FIRE...

 

Não tenho as respostas e não sou hipócrita como alguns Youtubers que apontam saber o "caminho para o sucesso". Sou só uma pessoa que quer alcançar a independência financeira o quanto antes e para isso estuda por conta própria a melhor estratégia para alcançar isso sem perda de qualidade de vida e perda da minha tranquilidade. Espero que esse relato ajude alguém e que alguém possa também comentar seu método para que eu possa ver uma visão diferente e talvez melhorar meu método de avaliação...

Grande abraço a todos!


VVI



4 comentários:

  1. Olá VVI,

    Obrigado por compartilhar sua estratégia de alocação. São ótimos momentos para trocar experiências.

    Confesso que já fiz muitas mudanças na minha estratégia de investimentos (já teve época que tinha 75% alocado em PP). Para me organizar, no inicio desse ano optei por montar um PIP e semestralmente avaliar os indicadores e as diretrizes.

    Atualmente optei por dividir meu portfólio financeiro (os imóveis estão fora) em quatro fatias: RV+Exterior (40%), RF (30%) e PP (30%). Mas nesse mês de julho pretendo reavaliar as diretrizes e os percentuais para o próximo ciclo.

    conforme você comentou: "Tenha uma alocação que te permita dormir bem a noite independente do mercado.", e com essa alocação, eu me sinto confortável para aguentar as oscilações do mercado.

    Abraços,

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  2. Olá VAR! Obrigado por compartilhar sua estratégia! A sua alocação em PP elevada é devido a plano de previdência de empresa que investe o mesmo que você no plano ou tem algum outro motivo para estar tão alocado nesse tipo de ativo? Alteração de estratégia é natural mesmo...Tenho que ficar me controlando pra não inventar moda de mês em mês...tarde... Grande abraço!

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    1. Oi VVI, esse valor de PP é devido a empresa que fazia um aporte e eu aportava a mesma quantia. E também teve um período que aumentei mais 50% para ajudar na declaração do imposto de renda.

      Hoje parei de aportar nesse PP mais antigo, porem ele tem crescimento próprio, uma verdadeira bola de neve. :)

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    2. Legal! A previdência da empresa onde eu trabalho é assim também (só não tenho essa sorte de ser tão boa de ser uma bola de neve)... Também tenho o PGBL pra completar os 12% pra minimizar o IR...Valeu pela informação!

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